sábado, 8 de agosto de 2009

Topografia do silêncio




O vento que passa é sussurro
Nesta hora incerta, onde a fala
Transporta estrelas ao mar.

Mas eis que mergulho
(e te dou o fruto!)

Estranha essa paisagem sem lagos,
Apenas um par de seios furtivos
(á espreita), acompanham
A tua mão de gelo.

Foi de repente essa solidão,
E, lembro-me do choro de perdidas crianças
Em desenho rápido, uma cantiga de ninar.

Onde o corpo?onde o peito?
Onde as mãos do verso e os olhos de antigamente?
Procuro coisas: e somente quadros conhecidos á parede,
Bonecas argentinas, alguns discos empenados e um sofá.
Mas a fala morta me faz lembrar
Dos perdidos beijos
Nos perdidos sinais.

É preciso que algo de novo aconteça,
E rasgo os tijolos, e das unhas vem o sangue
Quente quente
Numa mistura de cimento e de silêncio:
Dos olhos, uma tempestade
Lava para sempre
O que restou da solidão.


Antonieta coelho
1981

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