sábado, 8 de agosto de 2009

Preto e branco



Sou a companheira silenciosa
A repartir o dia á espera da noite
Recolhida em surpresa.

Sinto tua mão
Vaga mão a me deter:
Quisera converter em sangue,o esquecimento.

Não quero espaço pois escuto um quase gemido
(em meus braços longos e desiguais)
Ao derredor de luas grávidas.

Em meu sapato
cansada da procura
a fala morre
e já não tenho paz.

Mas de repente
Reencontro navios e muitas flores adocicadas:
Perco-me ao cruzar o portão que nos divide.
Escuto passos e á felicidade subindo escadas
Em preto e branco -feliz,procuro vestidos de bico de seda,-
E nada acontece.
Onde a promessa e as mãos da luta?

A imobilidade de tua face
Rebenta por cima da fala
E as têmporas estão repletas de formigas:
Louco,
esse meu desejo,
de beijar teus olhos,
E assassinar teu peito.

Exijo silêncio.
Um par de seios brancos ,e muitos beijos,
Porque estou triste.
Mas eis que tenho lucidez de coisas vivas,
Unhas cor- de- rosa ,lábios entreabertos
E orgasmos oceânicos.
E os escombros em frente são metáforas.

Ah eu quero valsas,recortes de jornal,
-eu quero uma flor.
E a dor é chuva,cantiga e mil telefonemas loucos.

Louco ,
esse meu desejo,
em colorir o preto
branco do teu medo,e, mansamente
desenhar um punhal de laranjas no teu peito.



Antonieta coelho
Recife,1981

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