Topografia do silêncio
O vento que passa é sussurro
Nesta hora incerta, onde a fala
Transporta estrelas ao mar.
Mas eis que mergulho
(e te dou o fruto!)
Estranha essa paisagem sem lagos,
Apenas um par de seios furtivos
(á espreita), acompanham
A tua mão de gelo.
Foi de repente essa solidão,
E, lembro-me do choro de perdidas crianças
Em desenho rápido, uma cantiga de ninar.
Onde o corpo?onde o peito?
Onde as mãos do verso e os olhos de antigamente?
Procuro coisas: e somente quadros conhecidos á parede,
Bonecas argentinas, alguns discos empenados e um sofá.
Mas a fala morta me faz lembrar
Dos perdidos beijos
Nos perdidos sinais.
É preciso que algo de novo aconteça,
E rasgo os tijolos, e das unhas vem o sangue
Quente quente
Numa mistura de cimento e de silêncio:
Dos olhos, uma tempestade
Lava para sempre
O que restou da solidão.
Antonieta coelho
1981
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